Cap.1 - Blasé (A+)
“Não vá embora, Raymond!”
O cachorro late. O homem tira o pano que cobria a traseira da caminhonete, revelando que embaixo dele havia também um menino fora as ferramentas e os pneus. O menino tremendo, fecha os olhos se esforçando, em vão, para não chorar. Suas lágrimas cobrem-lhe o rosto e molham a caminhonete.
Ano de 2007.
Dia 12 de Maio
Cidade de Fortaleza, Capital do Estado do Ceará; Brasil, América Latina.
Raymond de Araújo chega ao trabalho. Raymond de Araújo, um nome completo muito compacto, herança da sua mãe, sem sobrenome. Enfim, Raymond chega ao trabalho. Ou quase, na verdade ele chega ao estágio. Raymond tem 24 anos e cursa arquitetura em uma universidade particular. Este estágio é um milagre.
Ele liga para o amigo, Leonardo, para lhe contar que teve aquele sonho.
A mais de dez anos ele não tem aquele sonho.
Reunião do projeto Olympus. Olympus – Um novo conceito em Condomínios. A primeira fase do projeto é concluída, o coordenador pede duas pessoas para rever as plantas da base do condomínio. Caio, o funcionário mais dedicado ao projeto se voluntária. Visando não pagar hora extra, o coordenador pede que Raymond se voluntarie. “Vai ser bom para o seu Currículo.” Raymond não deixa esta oportunidade passar.
Antes de sair, Caio procura Raymond. “Este pacote chegou para você na minha mesa por engano.” Raymond abre. Um diário. Um diário queimado, algumas páginas viraram cinza, e parece que não dá para ler nada do que há nele. Raymond deixa o diário no seu armário e sai do escritório. Horário de almoço.
Raymond vai para a Lanches V, a Lanchonete em que Virgínia trabalha. Virginia e Raymond são amigos de infância, e existe um certo clima entre os dois, mas nunca aconteceu nada demais. Raymond já teve namoradas e Virgínia já teve namorados. As vezes eles parecem irmãos, as vezes namorados.
Virgínia chama Raymond para jantar na casa dela esta noite. Raymond, porém, já tinha aceito o trabalho extra e recusa a oferta. “Fica para outro dia, outra oportunidade”. Virgínia insiste, mas Raymond explica que ele não pode deixar escapar a oportunidade.
De noite, no escritório, Raymond e Caio trabalham revisando o projeto. Caio pergunta a Raymond se ele acha que existe algum Deus no mundo. Raymond diz que a mãe dele é muito devota, mas Caio insiste em saber o que RAYMOND acha. Então Ray diz que ele as vezes tem dúvidas, mas que acha que existe sim, um Deus. Raymond questiona o porquê da pergunta e Caio diz que um dia perguntou para Raymond e não obteve resposta, mas que, com certeza, Raymond não deve se lembrar deste dia.
Revisando as plantas do Olympus, Raymond encontra uma falha no alicerce, que é confirmado por Caio. Os dois corrigem a falha e Raymond é liberado um pouco mais cedo.
Chegando em casa ele recebe um telefonema do Leonardo, seu melhor amigo, lhe dizendo que Sonhos significam duas coisas: ou coisas que queremos fazer e não podemos ou coisas que ficaram no nosso subconsciente e retornam. Raymond pergunta “Não seria do nosso inconsciente?” e Leonardo diz “Tanto faz, eu vi na internet.”
Depois desta conversa, Raymond se deita no sofá e escreve uma mensagem para Virgínia, mas não a envia. Enquanto se questiona se envia ou não a mensagem para ela, ele adormece.
É tarde, por volta das três horas depois do meio dia de um dia do mês de Abril.
Raymond e Virgínia estão correndo pelo Jardim (ou seria quintal?) do homem mais rico do bairro. Ou eles, nos seus seis anos de idade, assim achavam. De repente o homem grande sai de casa com um grande cachorro, como se ele soubesse que haviam intrusos na sua propriedade. O medo do cachorro percorre os dois. Virgínia grita dizendo que o cachorro vai pegá-los e corre em direção de onde vieram. Mas Raymond... o medo tomou conta dele de uma forma que ele não era mais capaz de se mover. O homem se aproxima. As pernas de Raymond permanecem paralisadas. Virgínia não encontrando a saída entra em uma lata de lixo. Em um ímpeto, movido pelo medo, Raymond corre para a caminhonete e entra na traseira. Esconde-se embaixo do pano que cobre as coisas. Sua respiração fica ofegante. Ele quer chorar, quer gritar. Tem medo que o homem o veja, pois ele fez uma coisa errada. Tem medo do cachorro, que poderia estraçalhar uma criança de seis anos facilmente. O cachorro late. O homem tira o pano que cobria a traseira da caminhonete, revelando que embaixo dele havia também um menino fora as ferramentas e os pneus. O menino tremendo, fecha os olhos se esforçando, em vão, para não chorar. Suas lágrimas cobrem-lhe o rosto e molham a caminhonete.
Tudo escurece. O medo desaparece. Raymond só escuta uma voz, uma voz de criança lhe chamando.
“Não vá embora, Raymond!”
Raymond acorda. Dez e vinte da noite. O celular está tocando, é Virgínia. Ao atender, a voz do outro lado da linha está nervosa.
- Raymond, me ajude. Tem um homem do lado de fora tentando entrar.
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