sábado, 20 de novembro de 2010

OCO

Escrevo
Escrevo
escreve no escuro do meu quarto
com o coração na escuridão.

Hoje foi um dia como outro
ou os outros deveriam ser como este dia.

Oco

Eu observei meus atos ocos
e meu vazio futuro.
Me sinto mal.
Não há nada além de solidão.
E as escolhas são
sofrer
ou anestesiar-se.

Não tenho, no momento, como escrever palavras bonitas.
Não tenho, no momento, como possuir fé em nada.
Não tenho, no momento, nada

OCO

Apenas vazio e solidão
eu sofro pelos outros ou sofro por mim?
Estou sofrendo pelo meu avô
ou apenas por mim mesmo?

Meu avô...

Ele mal anda.
Ele mal vê. Mal escuta.

Meu avô vive um solitário final de vida
Solidão.

Onde estão os amigos dele?
Os vizinhos?
Alí só está um pobre ser
que mal consegue andar,
enxegar,
ouvir,
se comunicar.

Solidão, infinita solidão.
Viver oco.

Mas eu sofro por mim.
Na verdade

meu avô era brigado, a mais de anos e anos
com o irmão
e quando o irmão morreu, meu avô não foi ao funeral nem ao enterro.
Preferiu ficar em casa.

Eu tenho um irmão com quem estou brigado
e não espero isto mudar.
Talvez, se ele morresse, eu preferisse ficar em casa a ir ao seu funeral.

Me dói no momento, isto.
Que ao olhar para o meu avô
observo, na verdade, meu próprio futuro.

Observo minha morte solitária
e o estender do meu pulso e pulmão, para além da minha morte

Nesse cotidiano de silêncios velados
- cujos meus serão piores, pois não terei filhos
nas paredes mortas de uma casa da qual não sairei por meses
no passar de horas e dias e meses vazios

deste não-viver oco.

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